No blog da Angelus Novus, encontramos um contributo para a discussão dos booktrailers que passamos a reproduzir abaixo. .
«A discussão foi lançada no blogue da Livros de Areia, editora pioneira entre nós no domínio dos booktrailers (há, inevitavelmente, uma discussão em torno de datas e de quem é que foi mesmo o primeiro, mas a discussão suspende-se se admitirmos que a Livros de Areia foi seguramente das primeiras a recorrer ao meio e a conferir-lhe uma visibilidade que até aí ele não possuía). Num post intitulado (Mais de) dois anos de trailers, os editores falam-nos essencialmente das dificuldades em exibir os trailers em livrarias, quer em situação corrente, em loop, quer em ocasiões especiais, como lançamentos.
Em posts seguintes, o assunto foi retomado, primeiro com a notícia de que a D. Quixote começou a instalar pequenos monitores em livrarias para exibição dos seus trailers, e depois incitando os pequenos e médios editores a unirem-se e fazerem o mesmo, de modo a combaterem esta ocupação absoulta do espaço pelos grandes grupos da edição.
Trata-se de uma discussão decisiva, e só podemos agradecer aos Livros de Areia por a terem lançado. No nosso caso, podemos referir que os problemas que a Livros de Areia encontrou para exibir os seus trailers desde que começou a produzi-los são exactamente os mesmos com que a Angelus Novus se tem deparado. A situação é aliás algo paradoxal e exprime todos os problemas que atravessam o mercado do livro neste momento. Por um lado, parece manifesto que o retalho se modernizou mais depressa do que a edição. Em grande medida por actuação das grandes redes - o mesmo é dizer, à custa de margens leoninas, que os editores se vêem forçados a aceitar, sobretudo quando não têm peso para ripostar -, a verdade é que as livrarias deram um salto enorme em Portugal nos últimos anos, no sentido da informatização (indispensável, para acompanhar um fluxo editorial talvez excessivo para o nosso número de leitores), do investimento no tratamento arquitectónico do espaço (por vezes com um excessso de design, diga-se) e da sua multiplicação de valências: cafés dentro de livrarias, locais para leitoras e leitores folhearem livros confortavelmente instaladas/os, etc. Um percurso pelos sites das editoras portuguesas, porém, é bastante para percebermos que as mesmas não se modernizaram ao mesmo ritmo, decerto por não possuirem capital para tal.
O problema, porém, reside no facto de os booktrailers, para já não falar de sites e blogues, representarem um investimento relativamento moderado, e seguramente o investimento em marketing mais suportável para uma pequena ou média editora, o que torna ainda menos compreensível o descaso com que editores de certa dimensão tratam o multimédia e o digital, em sentido lato. Se assim é, porém, tudo se complica e volta à forma inicial quando, como lembra com toda a pertinência a Livros de Areia, está em causa a exibição dos trailers em livraria. Como este epísódio recente com os monitores da D. Quixote vem lembrar, é de novo a lógica do mais forte a imperar: as pequenas livrarias não vêem no suporte algo em que valha a pena investir, ou se vêem entendem que não lhes cabe a elas fazer tal investimento; e as grandes redes em breve perceberão que têm aí mais uma fonte de proventos, na secção «custos de exibição», que como se sabe é uma das áreas em que o rolo compressor dos grandes grupos mais funciona.
Será de prever que no futuro as livrarias incluirão Video Walls em que cada editora terá um nonitor a projectar os seus trailers? É claro que as pequenas livrarias não poderão fazê-lo, por falta de espaço - admitindo que as editoras poderiam susportar os custos de instalação e manutenção. Mais uma vez, a ironia disto é que, à primeira vista, só as grandes redes terão espaço para essas Video Walls. Como é evidente, porém, a solução da Video Wall não é racional, pelo espaço que pode vir a ocupar. Racional seria um monitor, ou mais do que um, mas sem chegar ao excesso da Video Wall, em que passassem em loop todos os booktrailers de todas as editoras, em regime de ocupação do tempo a negociar previamente, como é natural. Só que, e voltamos ao terceiro tópico dos posts da Livros de Areia, para isso é fundamental que pequenos e médios editores se agrupem, pois caso contrário não terão poder negocial para se oporem ao rumo que os grandes grupos tentarão impor, e para o que contarão com a anuência dos grandes grupos de distribuição e, bem entendido, dos pequenos livreiros.
Não se trata de lamentar ou de culpar terceiros (grandes ou pequenos livreiros, grandes e muito grandes editores). Trata-se sim de perceber, com o episódio dos booktrailers mas muito para lá do seu âmbito restrito, que os pequenos e médios editores estão neste momento, em Portugal, numa encruzilhada de que só poderão sair por um movimento associativo inédito e inovador. Sem isso, e um pouco como acontece em todo o mundo no sector do livro e em todos os outros, serão varridos do mapa, com grande prejuízo, diga-se, para o tipo de livros que se viriam a editar num cenário tão indesejável e, por isso, com grande prejuízo para todos os leitores que desejam mais do que aquilo que os grandes grupos querem e precisam de editar. A questão está pois em saber que trailer queremos para o nosso futuro. Na Angelus Novus, entendemos que não estamos condenados ao melodrama - assim como não estamos condenados a nada a priori. Assim haja inteligência estratégica, vontade e recusa de todos os paroquialismos.»
Nota: Estivemos a fazer o trabalho de casa e as Quasi terão sido pioneiras na execução dos booktrailers em Portugal. Esta nota não invalida, contudo e naturalmente, o estimável contributo da Livros de Areia para a difusão deste suporte.
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Ainda a discussão dos trailers
Postado por Booktailors - Consultores Editoriais às 09:59
Marcadores: booktrailers, Opinião