Luis Cristóvão publica no seu blog uma dura lição aos comerciais, marketeers e contabilistas das editoras. Reproduzimos aqui o texto:
« Senhores Vendedores, o gestor de compras de uma livraria não é um empregado de balcão, não está disponível sempre que os senhores aparecem, não é obrigado a comprar os livros que acha serem uma treta, não está para aturar os vossos comentários sarcásticos como se "ser de Lisboa" fosse uma vantagem e as notícias chegassem lá primeiro e à província só dez dias depois, com a diligência. Marcar uma hora para serem recebidos, terem mais do que uma ideia mínima do que estão a apresentar e terem consciência do que cada loja que visitam costuma vender ou colocar em destaque é o mínimo que podem fazer.
- Senhores Departamentos de Marketing, o país não é uma Fnac, nas paredes das livrarias costuma haver prateleiras com livros e não grandes espaços para cartazes horríveis, as montras que não se pagam aqui (nem um eurozinho, meus amigos, nem um eurozinho) são feitas para serem diferentes, para chamar a atenção, para cativar os clientes e, consequentemente, pensem que o mercado tem espaço para elementos que proporcionem essa mesma diferenciação, não me vindo com ideias que ser diferente é vender no Continente.
- Senhores Responsáveis da Contabilidade, estamos todos no mesmo barco. Se a factura 32456732 não foi paga no prazo de 60 dias é porque, muito provavelmente, mais de 50% dos produtos nela facturados não foram comprados por ninguém e, havendo direito de devolução, significa que a factura que está a pagamento pode ficar em stand by até que os senhores responsáveis do armazém tenham tempo de contabilizar as devoluções que foram feitas. Qualquer outra modalidade (que implique, por exemplo, existir uma livraria a investir e a financiar uma editora), não é solução. Ou seja, se nós fomos rápidos a devolver, os senhores têm mesmo é que se despachar. Se está a pensar que a solução para este problema é deixar de haver direito à devolução, então é porque não percebeu que sem direito à devolução deixam de existir parte das livrarias e, muito pior (ou melhor?) praticamente todas as editoras e livros publicados.
Editar livros, seja em que parte do mundo fôr, não é um favor que se faz aos incultos dos livreiros, nem aos sedentos de bens culturais, nem uma forma de tornar este mundo melhor - é um negócio. Simplificar procedimentos, ser cordial e simpático com os parceiros comerciais, isso sim, torna o mundo melhor, dá-nos tempo e saúde para usufruir dos bens culturais e acabará por demonstrar que nem todos os livreiros são tão incultos que não percebam que andaram a ser enganados.
Fim da lição.»