domingo, 16 de março de 2008

Francisco José Viegas e o meio editorial português

Excertos da entrevista a Francisco José Viegas, conduzida por Tiago Salazar (fotos de Alexandre Moreira), à Magazine Artes de Março de 2008, nº 60, páginas 23-24.

«Que se passou realmente na sua chefia de edição fracassada na ASA? Foi vítima do fenómeno canibal das editoras?

Não. Foi um projecto que teve a sua história e que precisa de mais tempo para se desenvolver, para crescer, talvez de outra maneira, com outras condições. Eu nem sempre acerto, mas acho que tenho a virtude de reconhecer rapidamente os erros.


Esta aparente opulência do meio editorial encobre a realidade penosa do que é a cultura inculta em Portugal?

Às vezes penso isso, mas depois comparo os nossos dados com os da edição estrangeira, e verifico que nos estamos a aproximar bastante de alguns nóveis de qualidade. O problema é o da tradição, o das elites, e dos hábitos. Quando chegamos à feira de Frankfurt, vemos que os políticos vão lá. Os políticos, os ricos, o star system brasileiro frequentam a FLIP de Paraty ou o Festival de Ouro Preto. As feiras de Barcelona recebem visitas da população inteira e das elites catalãs. Em Portugal é muito raro isso acontecer. Temos falta de exemplos vindos do alto. Isto (isto, o país) às vezes é um desconsolo. Que livros lêem os deputados? Como se formou a classe dirigente? Que gostos eles possuem e divulgam? Interessam-se por música (não falo de ir a um espectáculo num casino ou uma coisa pop, falo mesmo de música)? Duvido muito. Se há culpas a atribuir, elas recaem nessas pequenas elites, promovidas como figuras de televisão ou da imprensa cor-de-rosa, mas que não deram nada ao país, não contribuíram com uma ideia sobre a nossa vida cultural. É uma pena.»