A propósito da apresentação dos Resultados Preliminares do Inquérito ao Sector do Livro, entrevistámos, via e-mail, José Soares Neves, coordenador deste projecto.
O OAC tem desenvolvido inúmeros projectos e estudos, em particular no âmbito da Procura. Como caracteriza a acção do OAC no âmbito da Oferta das indústrias culturais, mormente a edição de livros?
Sendo uma entidade que se dedica à produção e difusão de conhecimento no domínio da cultura, no OAC procuramos acompanhar o que vai sendo produzido nos vários sectores culturais, seja com uma vertente mais teórica e académica, seja com uma vertente mais empírica e aplicada. O sector do livro é um deles. Mais concretamente, no OAC realizaram-se vários projectos em que as indústrias culturais em geral, e o sector do livro em particular, foram abordados em diferentes perspectivas, de acordo com o objecto e os objectivos de cada projecto, incluindo do ponto de vista da oferta. A consulta da listagem dos projectos realizados no OAC, bem como das suas publicações, e que constam da nossa página (http://www.oac..pt/), pode ajudar a esclarecer, porventura melhor do que eu, a questão colocada.
Importa, contudo, ter em conta que o OAC funciona por projectos, responde às encomendas que lhe são feitas, não são de sua iniciativa todos os projectos que executa nem os sectores de investigação para os quais se direcciona.
Este projecto de elaboração de estatísticas tem carácter de continuidade ou será um projecto isolado?
Talvez seja importante precisar que, com o Inquérito ao Sector do Livro, não se trata exactamente de elaborar estatísticas, mas sim de fazer um levantamento das fontes (quantitativas) disponíveis, de as trabalhar de um ponto de vista metodológico, de as sistematizar, de constituir séries temporais, de procurar construir indicadores de caracterização. Enfim, espera-se que, feito este primeiro grande levantamento, se criem condições para a sua regular actualização e aperfeiçoamento do ponto de vista da fiabilidade e da validade dos dados.
Uma vez que os projectos de investigação do OAC decorrem de encomendas, não é possível dizer se o projecto em curso terá, ou não, continuidade no OAC. Em todo o caso, o que posso dizer é que, tal como tem ocorrido com outros projectos, e está já a ocorrer com este, o trabalho realizado pelo OAC será com certeza de utilidade para os responsáveis políticos (a vertente de apoio à gestão política é uma vertente importante do nosso trabalho), para os vários agentes do sector e para os investigadores e demais interessados nestas matérias.
Explique-nos um pouco a constituição da sua equipa e os motivos que levaram à escolha?
É essencialmente uma equipa de sociólogos. A equipa foi constituída como são normalmente constituídas no OAC: com coordenação do Presidente do OAC (na altura de início do projecto era a Prof. Doutora Maria de Lourdes Lima dos Santos - a qual está já jubilada e foi substituída pelo Prof. Doutor José Machado Pais a 2 de Novembro de 2007), com responsabilidade executiva de um dos membros efectivos do OAC e, tanto quanto possível, com os investigadores do OAC. Quanto aos colaboradores, são escolhidos de acordo com a natureza das tarefas a desempenhar, a proximidade em termos de trabalho académico e a disponibilidade. Recebemos com regularidade curriculae que nos ajudam a proceder a essa escolha.
Qual tem sido a óptica do inquérito, para quem se destina e como se caracterizará esse instrumento, após estar concluído?
A óptica tem sido, como referi, o levantamento de fontes estatísticas e documentais, a realização de entrevistas com diversos agentes do sector e a aplicação de um questionário a partir de Março de 2008 . Este questionário destina-se quer à edição quer à comercialização (livrarias). No seu conjunto, espero que, uma vez concluído, dê lugar a uma caracterização do sector o mais completa possível, embora sem a pretensão de resolver todas as carências de informação. Como referi na apresentação do passado dia 25 de Janeiro, e penso que foi muito bem entendido pelos presentes, o inquérito não é uma panaceia, e haverá, naturalmente, que continuar os estudos e as pesquisas . Mas penso que ficará disponível um levantamento e uma caracterização relativamente vasta do sector.
O que podem os editores ir buscar a este Inquérito, do ponto de vista dos indicadores económicos?
Esses indicadores são vários . Refiro, a título exemplificativo: facturação e vendas (no mercado interno e externo); exportações, importações, valores relativos aos exemplares e aos direitos de propriedade intelectual, despesas das administrações central e local, etc.
Qual tem sido a principal dificuldade com que se deparou no decorrer do inquérito?
Não será propriamente uma dificuldade, mas a existência em Portugal de muitas fontes com potencial relevância para o sector, associada ao facto de estarem pouco direccionadas para responder às necessidades de informação, tem implicado um acréscimo considerável de trabalho no seu tratamento.
Uma das conclusões preliminares do inquérito refere a falta de apoio público. O que falta ao Estado para reforçar esse apoio?
Trata-se, mais especificamente, de apoio no que toca à internacionalização do sector. É verdade que, no decorrer das entrevistas, foram avançadas algumas sugestões, mas competirá aos responsáveis políticos definir se e como reforçar o apoio.
Uma das observações que podem ser efectuadas ao inquérito (apesar das poucas informações disponíveis) é que o mesmo não separa a edição comercial da edição não-comercial, tornando-se pouco pertinente para a análise do mercado por parte dos profissionais. Concorda com esta visão?
Devo dizer que não concordo. Como referi no passado dia 25 de Janeiro na sessão pública realizada na BNP (cuja apresentação está disponível no site do OAC), na fase de inquérito por questionário que vamos iniciar em breve (e que é, seguramente, a mais relevante deste projecto e em cuja preparação temos seguido uma metodologia participativa dos agentes do sector), opera-se uma separação estrita entre os dois tipos de edição. De facto, iremos inquirir as empresas cuja actividade principal é a edição, por um lado, e o comércio a retalho de livros, por outro. Ou seja, embora não se trate propriamente de um estudo de mercado (há entidades vocacionadas para esse tipo de estudos, o que não é o nosso caso) inclui essa e outras dimensões que têm sido consideradas nas pesquisas realizadas noutros países e que foram apontadas como relevantes pelos agentes do sector por nós entrevistados.
Quais os principais preconceitos que observa no seio do sector?
Os posicionamentos que detectámos são diferenciados, como os resultados preliminares deixam claro. Enquanto investigador, talvez a principal pré-noção que identifiquei tenha sido a de inexistência de informação estatística. De facto a questão central será mais a sua não exploração e cruzamento do que a sua inexistência.
Por outro lado, é inegável que faltava um inquérito ao sector, sendo que estava criada a ideia de que, apesar do reconhecimento dessa necessidade, haveria dificuldades em obter respostas. Penso que nesta altura esta questão está em larga medida ultrapassada porque se reconhece que é o do interesse de todos a participação no Inquérito. Gostaria ainda de adiantar que, naturalmente, as respostas são confidenciais, que a informação obtida se destina unicamente a tratamento estatístico e que os dados a difundir serão anónimos.
O que é que o sector (empresas, associações, etc.) deveria estar a fazer e não está?
Enquanto investigador não lhe consigo responder a esta questão.
Como observa a posição ambivalente do Estado face ao sector, onde está soba a alçada do Ministério da Cultura, mas tem de se reger pelas regras do Ministério da Economia (frequentemente acusado de ser preconceituoso face a este sector).Esperamos que, no âmbito do Inquérito, seja possível sistematizar vários aspectos das políticas públicas com relevância para o sector e, portanto, que se venha a contribuir para a sua articulação com vista a serem mais eficazes e eficientes. Esperamos também recolher as opiniões dos inquiridos quanto às referidas políticas. Quanto ao seu desenho e concretização, enquanto investigador, não me compete responder. Diria apenas que a ambivalência que refere, decorrerá, talvez, pelo menos em parte, da conhecida tensão entre cultura e economia a que bens simbólicos como os livros estão sujeitos.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Entrevista: José Soares Neves (OAC)
Postado por Booktailors - Consultores Editoriais às 00:01
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