sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Entrevista de Isaías Gomes Teixeira à Os Meus Livros (edição de Fevereiro 2008)

Alguns excertos:

«Nós pensámos que se juntássemos várias empresas, podíamos libertar recursos para investir no próprio produto: nos conteúdos e no marketing. Não pretendemos alterar o posicionamento de cada uma das empresas, o que queremos é libertar recursos para aquilo que é o "core business" em cada uma delas.» [p. 51]

«Acreditamos que os países africanos de expressão portuguesa são mercados de futuro para o livro escolar. Logo, a compra da Texto Editores não tem só a ver com o seu posicionamento em Portugal, mas com todo o posicionamento global.»[p. 51]

«Com a aquisição destas oito empresas reduzimos os recursos em cerca de 30%, o que libertou capital para nos podermos concentrar no produto, no marketing e na área comercial.»[p. 51]

«Ao nível escolar, cremos que não há mais nenhuma empresa que nos acrescente valor. Na área de edições gerais, nós já somos líderes e temos a dimensão suficiente para crescer organicamente. À partida, não estou a ver nenhuma empresa disponível que justifique a aquisição.»[p. 51]

«...acreditamos que podemos crescer nesse mercado [auto-ajuda] através de uma das nossas chancelas, a Lua de Papel (que pertence à Asa). A marca tem um excelente editor e, entre outras coisas, publicou o "best-seller" "O Segredo"» [p. 51-52]

«África será uma aposta forte da Leya. O Brasil não é uma prioridade. Será algo a pensar na segunda fase do ano. (...) Neste momento a nossa equipa está concentrada em consolidar a integração das várias editoras e em apostar no crescimento orgânico do grupo.»[p.52]

Tencionam captar autores brasileiros?
Sim, Mas para isso precisamos de adquirir editoras no Brasil. A Caminho vai editar este ano dois autores brasileiros, a Asa já o fez e o Francisco José Viegas com a sua chancela [Babilónia, nas Edições Asa] também o vai fazer» [p.52]

«A Leya oferece muito mais condições para se publicarem autores novos. Um grupo que factura 90 milhões de euros e que tem um resultado de exploração apreciável, tem mais condições para fazer apostas de risco de que as editoras mais pequenas.» [p.52]

«Quanto maior força tivermos para negociar com o retalho, mais poder teremos para colocar autores que, por si só, não gerariam tanto interesse. Aliás, se há um ponto em que tanto eu, como os restantes administradores, temos insistido junto dos editores, é para que descubram novos autores.» [p.52]
"Confirma que, à priori, não haverá qualquer alteração nas linhas editoriais das diversas marcas, nem nas direcções que os respectivos editores lhes imprimiram?
Confirmo.» [p.53]

«Nós, como grupo, pretendemos potenciar o verdadeiro trabalho de um editor: o homem que procura, que escolhe, que acompanha, que edita, tendo uma estrutura de gestão que o apoia. Numa editora pequena, o editor tem de se preocupar com todas essas vertentes e é impossível que gira de forma profissional todas elas. A profissionalização implica que cada área seja gerida por um especialista e isso só é possível tendo dimensão.»[p.53]

«O e-book e o audiobook, para já, não são prioridades. Estamos atentos, a acompanhar o que se faz no mercado internacionalmente, mas acho que não temos dimensão em Portugal para sermos nós a "puxar a carroça".» [
p.54]

«Temos um canal de distribuição de livros online, que é o Mediabooks.pt, sobre o qual estamos a fazer alguns estudos e a ponderar a sua estratégia. Devo dizer que não é um dossiê fácil, no sentido em que é necessário ter em conta a concorrência internacional.»[p.54]

«Nós somos o elo de ligação entre o autor e o leitor. Quanto melhor expusermos o livro, melhor para o leitor. Em quanto mais canais de distribuição estivermos, melhor para o leitor. Pretendemos abrir o leque de canais de distribuição onde vamos ter os nossos livros.»[p.54]

«O receio de que a concentração implique menos diversidade é infundado?Sim. Nós publicaremos aquilo que tem, efectivamente, interesse e procura por parte do mercado. Mas, há produtos que embora nós saibamos que nunca serão rentáveis, fazem parte da responsabilidade de um grande grupo publicá-los, porque têm um valor cultural intrínseco. Agora, não faz sentido publicar um livro do qual há milhões de livros iguais, para vender 500 exemplares. Mas isso não quer dizer que só publiquemos o que é rentável.»[p.54]

Fonte: Isaias Gomes Teixeira, Revista Os Meus Livros, Fevereiro 2008, nº 60, páginas 50 a 54.