quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Christian Bourgois – uma memória de António Lobo Antunes

António Lobo Antunes na sua habitual crónica na Visão recorda Christian Bourgois.


«Há horas recebi a notícia da morte do meu editor francês, Christian Bourgois. Era meu amigo, trabalhávamos juntos há vinte anos, depois da sua operação ao cancro fui por diversas vezes a Paris para estar com ele. Uma manhã disse-lhe
- És um grande eidtor
ele respondeu
- Não há grandes editores sem grandes autores
e a modéstia das suas palavras elegrou-me. Tinha um imenso faro para descobrir talentos, não se tornou nunca um comerciante, os livros constituíram sempre a sua razão de ser. Não há muitos editores que eu estime e respeite. Que horrível coisa perder um amigo: e as grinaldas de lâmpadas a tremelicarem no escuro, a tremelicarem no escuro, a tremelicarem no escuro.
A melancolia das lâmpadas, gente por todos os lados, enervada, com pressa. Desde que cresci o Natal tornou-se uma multidão de gente enervada e com pressa. Que não fazem sombra no mar. Não fazem sombra em parte alguma, zangam-se apenas: deve tratar-se do espírito da quadra. Não fui eu que perdi um amigo, foi o Christian que perdeu tudo.»

Fonte: Visão, 24.01.2008, p. 18.