segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Byblos, por Eduardo Pitta

Depois do post do dia 14.12.2007, Eduardo Pitta publica no Da Literatura, hoje - 31.12.2007, um post sobre a Byblos, com o título "Byblos in loco".


Anteontem fui espreitar a Byblos, na fronteira de Campo de Ourique com as Amoreiras. A tal mega-livraria que o Notícias Magazine classifica como sendo um «projecto que raia a ficção científica» (sic). A jornalista terá razões que Asimov, Strougatski, Bradbury, Spinrad, Wells, Burgess, Herbert, Clarke, Galouye, Attanasio, Ballard, Verne e outros ignoram. OK. Vamos cair na real. No sábado, às quatro da tarde, haveria talvez 30 clientes. Trinta. Vejam o efeito da coisa num espaço de 3300 metros quadrados. Os empregados eram muitos, e os dois com quem falei demonstraram inegável profissionalismo. Os monitores tácteis funcionam, mas servem de pouco: localizam as existências do site, mas não a totalidade do stock. Quinze dias depois da inauguração, a estante robotizada permanece inoperacional. Podia citar uma dúzia de novidades que não encontrei (entendendo por novidades livros saídos nos últimos 60 dias). Com excepção das secções de arte e filosofia, bem sortidas, as outras pareceram-me pobres. E estou só a falar de livros. Em matéria de DVD e CD o desastre é absoluto. A cafetaria está isolada da área de circulação, uma opção sensata. E o kindergarten metido num canto bem delimitado, o que evita andarmos a tropeçar em criancinhas. O press center é inferior à concorrência (em Lisboa, conheço três de nível superior). No piso superior, junto às escadas rolantes, o chão tem um desnível, disfarçado pela alcatifa, que pode vir a provocar quedas de clientes mais apressados ou distraídos. Não encontrei caixas equipadas com sistema de radiofrequência, as tais que permitem leitura das etiquetas dentro dos sacos, como há na Fnac. Esperei numa caixa tradicional, doze minutos, porque havia três clientes à minha frente. Para um investimento de quatro milhões de euros, o resultado é decepcionante. Isto são os aspectos objectivos. A parte subjectiva decorre de não apreciar a decoração, a arrumação, os adereços, o mobiliário e os candeeiros do redondel de leitura, nem, de modo geral, da imagem. Tudo visto, uma inescapável sensação de amadorismo.