terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Ainda a polémica Sousa Tavares / Pulido Valente

O Expresso, na ACTUAL desta semana (01.12.2007, páginas 68 e 69), publicou alguns comentários de várias personalidades a esta polémica. Vejamos alguns excertos:

António Costa Pinto (historiador)

«…O escritor tem inteira liberdade da mudança, da troca, do engano, desde que não reivindique o rigor. Qual é a grande armadilha? Quando um romancista tenta enquadrar a trama servindo-se de acontecimentos reais. Aí não pode haver falhas.(…) VPV faz crítica historiográfica. Mas do ponto de vista da historiografia também há coisas muito forçadas (…) Um romance, seja de que género for, deve ser analisada enquanto obra literária. (…) Enquanto historiador profissional, e é disso que se reclama nesta crítica, a ficção está fora do seu universo. E entendo que não compete a um historiador avaliar uma obra de ficção»

Mário Cláudio (escritor)
«(…) Considero que um historiador deve aplicar aos romances o olhar de um leitor. Não pode aplicar a um livro, que é do âmbito da criatividade, uma metodologia que não é do âmbito da ficção.»

Pedro Mexia (crítico e escritor)
«A crítica de V.P.V. é legítima na medida em que se posiciona como um historiador a escrever sobre dados históricos. Saber se é isso que interessa a um romance histórico já é questionável. O Miguel estava escaldado por causa da crítica ao Equador, onde teve de rectificar erros. Em Rio das Flores tem demasiada preocupação em defender-se, faz uma nota de autor (em que garante ‘aos leitores a seriedade do relato histórico, aos caçadores de erros a inutilidade final do seu esforço’) e acrescenta uma extensa bibliografia, mas também diz que a veracidade não é o que lhe interessa num romance. Aqui é contraditório e dá o flanco. V.P.V. aproveita e concentra-se no que conhece, na análise da dimensão histórica do romance. As minhas dúvidas são sobretudo em relação ao critério de ter sido ele o convidado a fazer a crítica. Eles têm uma polémica pública. Eu teria um certo pudor.»

Lídia Jorge (escritora)
«Parece-me antes de mais um ajuste de contas, do qual eu não conheço a primeira partida. (…)… a pergunta que se faz é: porquê tanto empenho em torno de uma ficção?»

Rui Tavares (historiador)
«(…) Depreendemos que as razões que o movem [VPV] para a crítica são fúteis. Poderiam até ser divertidas, mas, sendo inacessíveis, não podemos chegar até elas. E aqui se quebra uma regra: em matéria de polémicas no espaço pública toda a gente deve estar na posse da informação. A polémica fica aniquilada. Esperava-se melhor destes dois senhores, que têm grande qualidade intelectual. (…) A sua crítica [de VPV] é legítima mas é unidimensional. Faz uma crítica plana, empírica, cita uma data de passagens e destrói. É uma técnica corrente.(…) Como leitor, uma crítica histórica a um romance histórico não me satisfaz. O objecto é um romance. Para o criticar, tem de se ter sensibilidade romanesca. Aqui o substantivo é ‘romance’, e não ‘histórico’…»

Miguel Real (escritor e crítico literário)

«(…) [VPV] valoriza a história, desvaloriza a ficção. Nesse sentido, o artigo não tem valor como crítica literária e é desadequado.»

Miguel Esteves Cardoso (cronista)
«Um romance é um romance. Pode-se tudo. Se o Miguel corrigisse os erros que o Vasco lhe apontou seria um romance na mesma. O Vasco é tão brilhante e sabe tanto de História que pega na crítica e dá uma aula. As ideias do livro não são as do Miguel. São ideias recebidas e retransmitidas e que se transformaram em erros de cultura geral sobre aquele período histórico. O V.P.V. aproveita o espaço que o jornal lhe dá para uma crítica a um livro sobre um período que conhece muito bem (para ele deve ser aflitivo ver ao longo de anos os mesmos erros repetidos) e aproveita para corrigir uma série de preconceitos errados que todos temos. E o que aqui temos é um Vasco culto e genial a fazer a revisão de um romance. É muito útil como sabatina. Claro que isto é um pesadelo de qualquer escritor.»