segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Facturas obituárias, por Jaime Bulhosa

«Conto esta história de memória, conforme ma contavam a mim. Não sei a sua origem, nem se é verdadeira. Dizia-se que um livreiro e a sua secretária e amante, com cara de poucos amigos, mantinham uma livraria decrépita e decadente na baixa de Lisboa, o assunto dava que falar entre as pessoas do meio. O que é certo é que iam mantendo a livraria aberta ao longo dos anos. O segredo era o seguinte: o livreiro e a sua amante liam todos os dias os obituários dos jornais, à procura de anuviadas viúvas da alta sociedade. Conseguindo facilmente as suas moradas, enviavam-lhes cartas, lamentando o incomodo, juntamente com pesadas facturas de listas de livros e revistas pornográficas que alegadamente os seus falecidos maridos tinham comprado. As viúvas, horrorizadas, pagavam rapidamente, sem fazer muitas perguntas, com medo de algum escândalo. Outras, dizia-se, continuavam clientes, mas creio que era só má-língua. Parece que este esquema rendeu milhares de contos. O negócio manteve-se, como quase sempre acontece, até que se facilita e se comete um erro. Um dia uma viúva, cujo marido era cego, recebe uma destas cartas que levantou, como devem calcular, suspeitas.» Ler aqui.