quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Revista Os Meus Livros

4 Editorial
6 Breves
Dos Livros e da Vida
9 Internet
Sites, blogs, homepages... saiba o que há sobre livros na internet.
10 Eventos
Lançamentos, festas e outras acontecimentos em torno dos livros.
11 Quem Diria
Citações
12 Os TOPS de vendas
Conheça os títulos mais vendidos em Portugal e no estrangeiro.
16 Agenda
Saiba o que há em Agosto sobre livros: feiras, programas, debates, colóquios...
18 Nas livrarias
Uma selecção atenta e criteriosa do mais interessante que vai sendo colocado à venda.
22 Autor Mia Couto
O regresso com
Jesusalém, romance sobre a loucura e a solidão dos homens e dos lugares.
26 Verão Sugestões de leitura
Dezena e meia de novidades que não pode deixar de ler.
30 Livrarias Lisboa
Uma livraria especializada na capital e outra que publica as edições municipais.
32 Audiolivros Novidades
Uma nova vaga de lançamentos ajuda a fortalecer este formato.
33 Mercado Nova editora
Com uma aposta no esoterismo e no interesse por conspirações, a Lux-Citânia chega ao mercado.
34 Jornalismo Reportagem
«Portugal a Negro» e «Meninos de Ninguém» reafirmam o jornalismo em português.
36 Sociedade Censura
Um pouco por todo o mundo a censura continua. José Saramago, Cristovão Tezza ou Toni Morrison são apenas algumas das vítimas.
38 Tema de capa
Os refúgios dos escritores
Onde escrevem? Para onde vão de férias? Mas, um escritor tem férias?
48 Protagonista Gilda Lopes Encarnação
Traduziu, pela primeira vez, “A Montanha Mágica” directamente do português. Fala-nos sobre a experiência e sobre a sua actividade
52 Caldeirada de Letras Luís Graça
Um novo cronista que promete arrasar.
53 Críticas Ler, reler, classificar
Alguns dos títulos mais importantes lançados nos últimos tempos são alvo de análise e classificação.
66 Artes e Letras
Obras portuguesas recentemente lançadas com um público bem definido
68 Pré-publicação
Quem Ama, Odeia, Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo, Oficina do Livro
71 Este Mês
Conheça os títulos que as editoras vão lançar durante o mês de Agosto.
Lista completa em www.oml.com.pt
72 Cartas do Mundo
Em cada mês um texto sobre uma cidade diferente. Em Agosto, Luanda.
73 Os Meus Livros Júnior
Sugestões, artigos e outros motivos de interesse para os mais novos.
82 Convidado
Eduardo Madeira.


Na edição deste mês da revista Os Meus Livros, João Morales apresenta alguns casos de censura na literatura internacional. Apresentamos o texto abaixo, da edição de Agosto da Os Meus Livros.

«Livros com ferrolho,
por João Morales

Pezinho aqui, mãozinha ali, a censura lá vai marcando presença. Saramago, Dario Fo ou Cristóvão Tezza foram algumas das vítimas mais recentes.

“Na terra da Mafia e da Camorra [em Itália], que importância pode ter o facto provado de que o primeiro-ministro seja um delinquente?”, questiona José Saramago no seu mais recente livro, “O Caderno” (Caminho), onde estão reunidos os textos que vai colocando online diariamente. Graças a este e outros mimos semelhantes, o escritor viu recusada a publicação em Itália pela Einaudi, propriedade de... Silvio Berlusconi.

Este é mais um episódio de censura dos nossos dias, ocorrido com quem até já o sentira no seu próprio País (todos se recordarão, certamente, da intervenção de um membro do Executivo invalidando a possibilidade de “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” concorrer a um prémio internacional).

Semanas depois, Saramago volta à carga, num texto publicado primeiro no El Pais e, posteriormente, no Diário de Notícias. O início é expressivo: “Não vejo que outro nome lhe poderia dar. Uma coisa perigosamente parecida a um ser humano, uma coisa que dá festas, organiza orgias e manda num país chamado Itália”.

Pelos mesmos dias, João Ubaldo Ribeiro (distinguido com o Prémio Camões em 2008) via a comercialização da reedição de “A Casa dos Budas Ditosos” (Edições Nelson de Matos) ser-lhe negada por uma cadeia de supermercados, o Grupo Auchan (que, curiosamente, já tinha tomado essa atitude dez anos antes, com o mesmo livro...). Por entre várias vozes, o próprio Ubaldo Ribeiro não escondeu o seu desencanto: “Na brava Lusitânia, onde no geral os brasileiros são tão apreciados quanto percevejos, entro na galeria dos pornógrafos proscritos e o “Viva o Povo Brasileiro” ainda está sendo examinado para ver se pode ser vendido na rigorosa rede. Pôde ser adotado duas vezes (o máximo que a lei permite) pelo Ministério da Educação da França como o livro-texto para o Exame de Agregação de língua portuguesa, mas tem que ser examinado por vendedores de supermercado, para ver se é leitura permissível aos portugueses”, sintetizava numa mensagem dirigida a Ancelmo Góis, cronista principal do jornal brasileiro O Globo.

Tezza vetado na escola

Porém, embora sejam estes os casos mais mediatizados na imprensa portuguesa, não são os únicos exemplos de censura recente. Ainda falando de autores brasileiros, Cristovão Tezza (autor de “O Filho Eterno”, vencedor da edição de 2008 do Prémio de Literatura Portugal Telecom, publicado em Portugal pela Gradiva), teve o seu livro “Aventuras Provisórias” censurado em Santa Catarina, ainda por cima, a sua terra natal. Adoptado para o Ensino, o romance foi posteriormente recolhido pelo Governo do Estado por conter conteúdos considerado inadequados, como descrições de cenas de sexo ou o uso de palavrões.

“As escolas não estão preparadas para lidar com a literatura em sala de aula”, considerou Tezza, em declarações difundidas pela Agência Estado. Esta é a segunda obra de Cristovão Tezza proibida em escolas. Antes, o livro “Juliano Pavollini” também foi considerado impróprio em Curitiba, onde, hoje, o escritor lecciona. “O caso de Santa Catarina chamou a atenção porque foi uma reclamação pontual e o Estado imediatamente mandou recolher todos os exemplares. Foi uma coisa exagerada. Até porque o livro era para o ensino médio, que tem estudantes acima dos 16 anos. Se podem dirigir ou votar, podem ler também”, considerou o escritor, também professor, na Universidade Federal do Paraná. Apesar de tudo, procurou minimizar o ocorrido, que não vê como censura explícita. “São manifestações isoladas de conservadorismo, visões retrógradas da literatura, que pipocam aqui e ali. Não é sistémico”, considera.

Dario Fo, repetente

Por terras italianas, outra vítima recente foi Dario Fo, Nobel da Literatura em 1997, que, aliás, já teve também problemas com o citado senhor Berlusconi, pela ópera “O Anómalo Bicéfalo” (além da grandiosidade do título, é impossível deixar de reparar nesta relação continuada entre o político italiano e os galardoados com o mais destacado prémio de Literatura. Coisas…).

Desta vez, o autor de “O Primeiro Milagre do Menino Jesus” viu serem colocados entraves à encenação da sua peça “Giotto o non Giotto?” na Praça da Basílica de São Francisco, espectáculo proibido pelo Bispo de Assis, Domenico Sorrentino. Na origem desta decisão poderá estar o teor do texto, que coloca dúvidas sobre a autoria dos frescos que se encontram no templo. Segundo adiantou o diário italiano La Stampa, a obra – um monólogo de cinco horas, divido por duas representações – sustenta que Giotto não poderia ter pintado os frescos da Basílica de Assis, por ser “demasiado jovem para ter uma encomenda tão importante”.

E está visto que estas coisas atraem mesmo os livros dos prémios Nobel. Um professor de liceu da disciplina de Inglês, em Shelby, na Carolina do Norte, mandou retirar “Song of Solomon”, da Nobel americana Toni Morrison (premiada em 1993) do programa, depois de vários elementos da comunidade local terem alertado para as “referências sexuais e violência” numa obra que designaram como “profana”. A história foi publicada no January Magazine (http://januarymagazine.com/2009/05/toni-morrison-novel-banned-in-michigan.html) e vale a pena lê-la.

Mais directos nas suas intenções foram quatro membros da Christian Civil Liberties Union, do Wisconsin, ao pedirem uma autorização legal para poder queimar publicamente “Baby Be-Bop”, livro de Francesca Lia Block (de 2003), considerando-o “explicitamente ordinário, racista e anticristão”, como noticiou recentemente o jornal The Guardian. O pedido incluía uma indemnização de 120 mil dólares, pedida à Associação Americana de Bibliotecas (American Library Association), como compensação pelo transtorno da presença do livro numa biblioteca, a West Bend Community Memorial Library.»