segunda-feira, 13 de abril de 2009

Opinião: Ruído a mais, por Pedro Rolo Duarte

RUÍDO A MAIS,
por Pedro Rolo Duarte (*)

A editora Alêtheia, de Zita Seabra, vai alargar a sua área de negócio, abrindo uma livraria em Lisboa. A Porto Editora, um dos líderes da edição escolar, prepara-se para apostar na área da poesia. Nos últimos 15 anos, o número de obras anualmente publicadas duplicou, tendo em 2002 ultrapassado a fasquia dos 12 000 volumes – o que resulta num número extraordinário: são editados 32 livros por dia em Portugal...

Rara é a notícia da editora que abre falência. Há editoras que não crescem, que apenas sobrevivem. Mas não fecham. Não fora o falhanço do projecto de livrarias Byblos, entretanto falido (um case study sobre a Lei de Murphy – se alguma coisa pode dar errado, é muito provável que dê mesmo...), e até o retalho andava nas nuvens. Era fácil provar que o sector do livro vive anos de expansão, e que os editores reúnem o melhor dos mundos: talento e sorte.

Na verdade, um zoom sobre o tema mostra que se publica mais, mas não se vende proporcionalmente mais. Há maior oferta, mas não há maior procura, ainda que ela possa ser diversificada. Ou seja, estamos mais ou menos na mesma, mas bem embrulhados em variedade e marketing.

Vive-se, no mundo da edição, algo semelhante ao que sucede no universo dos blogues (o crescimento mundial é ao ritmo de 120 mil novos blogues por dia...): há muito mais gente a escrever. Mesmo que não haja muito mais gente a ler.

E este é o drama dos tempos modernos. Para quem abre um blogue, publica um livro, ou apenas quer ser ouvido: tem a oportunidade de se manifestar - mas falta-lhe o silêncio onde a voz se distinguiria.

Por isso a pergunta subsiste: de que me serve a liberdade de expressão, se ninguém me ouve?

N. E.: Este texto foi escrito para um número zero do jornal i.

(*) Pedro Rolo Duarte trabalha há mais de 25 anos em jornais, revistas, rádio e televisão. Foi um dos fundadores da Visão, trabalhou para O Independente, a revista K e o Diário de Notícias», onde esteve à frente do DNA. Encontra-se actualmente a trabalhar no jornal i.
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