terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Acordo Ortográfico (opinião de Carlos Reis)

Carlos Reis assinou um artigo na Visão do passado dia 13 de Dezembro de 2007, no qual defende a assinatura do acordo ortográfico.


Alguns excertos:

«Não é verdade que as telenovelas portuguesas foram moldadas pelo padrão-Globo? Falta dizer o que é óbvio, mas quase sempre escapou aos assustadiços defensores da nossa pureza idiomática: um acordo ortográfico não implica que automaticamente se fale como os brasileiros, uma vez que as suas consequências, no plano fonológico (no do sotaque, para nos entendermos), são praticamente nulas e inexistentes, no domínio da sintaxe. Ou seja: aqueles âmbitos em que os brasileiros «falam como os brasileiros».

«… é possível que volte à praça pública um complexo que, no fundo, persiste entre nós: o de uma concepção da língua portuguesa como património exclusivo dos portugueses, putativos proprietários e zelosos proprietários e zelosos fiscais desse património enclausurado dentro das muralhas da última e resistente aldeia lusitana. Não tem que ser assim, obviamente. E é bom que se diga que o português não só não é propriedade exclusiva dos portugueses como o seu futuro depende (e muito) da capacidade de afirmação internacional de um país com o potencial económico e geopolítico do Brasil. Portugal pesa pouco nesse concerto, apesar de a sua integração na União Europeia poder constituir uma mais-valia importante de que o Brasil, obviamente, não dispõe. Por isso mesmo, bom seria que uníssemos esforços (que nos puséssemos de acordo), em vez de cavarmos discrepâncias baseadas em preconceitos tão serôdios como irritantes.»

«Sejamos claros: um acordo ortográfico entre todos os países de língua oficial portuguesa é fundamentalmente um instrumento estratégico, com propósito semelhante (embora com determinações específicas, como é óbvio) ao de acordos políticos, culturais e económicos, sem lesão de soberania nem de identidade, até porque um acordo não obriga a uma uniformização.»