sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Entrevista: Manuel Alberto Valente, Grupo Leya

Manuel Alberto Valente aceitou responder a uma entrevista por e-mail para esta rubrica semanal do Blogtailors, em que todas as sextas-feiras publicamos uma entrevista a um profissional do livro. Dê-se então voz a alguém que explica a evolução da edição na primeira pessoa, precisando apenas de se auxiliar da memória.


1. Ouvimo-lo dizer por várias vezes que, no negócio do livro, tem de se publicar o que dá para publicar o que não dá. Com a tendência de concentração do mercado, de aumento concorrencial, continua a perfilhar a tese que é possível publicar livros que "não dão"?

É esse precisamente o grande problema. Com a concentração do mercado e a criação de grandes grupos editoriais (muitas vezes detidos por meros fundos de investimento), a questão da rentabilidade coloca-se de uma maneira completamente nova. Para o editor tradicional a noção de lucro era importante, claro, mas funcionava noutra escala de grandeza. Ou seja, era aceitável perder (ou não ganhar) dinheiro em alguns livros, desde que o resultado final fosse positivo e deixasse uma margem interessante. Para um grande grupo os lucros têm de ser muito mais altos e, portanto, não é fácil encaixar neles um livro em que, à partida, se sabe que pouco se vai ganhar, ou em que se vai mesmo perder.

Mas penso que a lógica se pode manter nas editoras independentes, que vão ter, curiosamente, cada vez maior importância no mercado.

2. Com o passar dos tempos e as mudanças no mercado, que diferenças nota nas Feiras Internacionais?
As Feiras vão-se adequando às modas de cada ano. Já não são hoje, como eram, um local de descoberta. São apenas um local de negócio. Há “produtos” e há “clientes”…

3. Que importância têm, hoje em dia, as feiras internacionais?
A importância que advém da rede de relações pessoais que aí se estabelecem – e que vão depois funcionar ao longo do ano. Um e-mail que tem atrás de si um rosto é certamente um e-mail mais eficaz.

4. Qual a sua posição face à Lei do Preço Fixo, no contexto da cada vez menor esperança de vida do livro?
Penso que a Lei do Preço Fixo tem de ser repensada, face precisamente à situação caracterizada na pergunta. Os próprios editores têm necessidade de escoar fundos parados, embora não se possa esquecer, neste caso, que a maioria dos contratos internacionais não permite ao editor baixar o preço de um livro antes de decorrer um certo período após a sua publicação.

5. Considera que o aparecimento de lojas como a Byblos são a solução para o problema dos stocks em excesso?
Não me parece, porque a Byblos é apesar de tudo uma livraria “normal”, em que, ao que sei, existem dois exemplares de cada livro de fundo. O problema só se resolveria, eventualmente, com grandes livrarias de saldos.

6. Como avalia o fenómeno das imprints, de que a Asa foi uma das principais impulsionadoras?
Como uma tentativa de dar um “rosto” específico a determinado tipo de livros.

7. Quais as principais vantagens e desvantagens inerentes às imprints ?

A vantagem é a que decorre da resposta já dada. Não vejo que desvantagens possam advir.

8. Não teme que uma desmultiplicação da Asa em várias marcas (Oceanos, Lua de Papel, Caderno,…) faça perder o "efeito Asa"?
Não creio. Primeiro, porque a maior parte dos leitores, quando compra um livro, não sabe identificar o editor. E aqueles que sabem, sabem que essas marcas pertencem ao universo ASA.

9. Considera que a editora enquanto marca poderá combater o fenómeno da concentração editorial?
A ASA faz hoje parte de um grande grupo editorial, juntamente com a Texto, a Caminho, a Gailivro e a Nova Gaia. Não creio que esta concentração vá prejudicar a linha específica de cada editora, embora sejam normais ajustamentos de pormenor. A concentração, além de inevitável, não é forçosamente um mal. Se atentarmos no caso espanhol, verificamos, por exemplo, que algumas das mais importantes editoras literárias (como a Seix Barral ou a Destino) se encontram dentro do Grupo Planeta. O mesmo acontece em França. Depois de uma primeira fase de alguma “turbulência”, julgo que o mercado editorial português se adaptará a esta nova situação. Que é fruto, não podemos esquecer, do seu próprio crescimento e da sua afirmação enquanto mercado apetecível.

Manuel Alberto Valente
26/12/07