quinta-feira, 15 de maio de 2008

Feira do Livro: reacções na blogosfera

Alguns excertos:

Rua da Castela, Jorge Reis-Sá:«Afinal a notícia de última hora de ontem do Público - citada num post anterior - era mesmo falsa. A Leya vem à feira do livro, assim o diz com as letras todas Manuel Jorge Marmelo no Local de hoje do mesmo jornal. É no Local... Presumo que não interesse aos sulistas.

(...)

Recebi antes de ontem um email de um autor da Oficina. Cito-o: "Olha, acabei de saber que o grupo da Oficina também já faz parte da Leya. Aquilo não pára! Não sei muito bem como um escritor tão pouco relevante em termos de venda fica nesse mundo..." A preocupação é de todos os que gostam de literatura e não a indexam directamente e sem mais às vendas. Porque eu também não sei...»

Breve comentário: não é saudável que se situe a Feira como uma guerra Norte-Sul. Cartão vermelho para este tipo de associações. (pf)

- Arrastão, Daniel Oliveira: «Câmara de Lisboa suspendeu montagem da Feira do Livro e pondera cancelamento do subsídio. Por causa da novela entre editoras Lisboa arrisca-se a perder a Feira do Livro. Numa cidade que perdeu quase tudo, é só mesmo o que falta. Um disparate sem nome e, a confirmar-se, um erro grave da Câmara Municipal.»

- Da Literatura, Eduardo Pitta: « actual imbróglio entre a Câmara de Lisboa, as associações de editores [APEL e UEP] e o grupo Leya, devia servir para repensar o modelo da Feira do Livro de Lisboa. Repito o que escrevi noutras ocasiões: não faz sentido uma feira ao sol e à chuva, muitas vezes sob nuvens de poeira, sem instações sanitárias, com os livros amontoados em stands decrépitos, roídos pela ferrugem, os autores sentados em plano inclinado, etc. Um evento desta natureza devia realizar-se em recinto coberto, como no Porto, com entradas pagas, sendo o seu valor descontado no pagamento dos livros adquiridos. A FIL, no Parque das Nações, seria uma boa opção. Isto dito, a conflito à volta do barracão que a Leya pretende instalar — parece que com 720 metros quadrados —, para abrigar a dúzia de editoras que comprou, não tem razão de ser. Primeiro, porque em anos anteriores o barracão colectivo dos editores independentes sempre coexistiu com os stands individuais. E nunca vi nenhuma associação queixar-se do barracão dos pobrezinhos. Agora que os ricos querem ter um, cai o Carmo e a Trindade. OK. Entretanto, lembrar aos distraídos que não é por haver (ou não) hiper-barracões que a Feira se isenta de lugares selectos: o modelo actual reserva a melhor localização aos editores mais influentes. Ou é mera coincidência?»

- Zero de Conduta, Pedro Sales: «Pode ser que tenha escapado a António Costa, mas os lisboetas não se têm deslocado todos os anos à Feira do Livro por causa do autor A ou Z, mas porque gostam da Feira. Há muito que os passeios no Parque Eduardo VII fazem parte da tradição anual de milhares de pessoas e transformaram a Feira num dos mais populares eventos culturais de uma cidade em que eles não abundam. Pior. Ao associar o interesse público à presença de certos autores, defendendo as pretensões de uma editora interessada em gozar de um tratamento de excepção, a Câmara aceita a chantagem dos grandes grupos editoriais. Este ano são os pavilhões especiais que a Leya teima em montar. Mas, aberto o precedente, quem é que garante que a chantagem da Leya não vai subir de tom? E o que pensarão as outras dezenas de autores e editoras que, no entender da Câmara, não são dignos do interesse público? Se a decisão é mais do questionável, a justificação é inaceitável. Uma trapalhada, agora com a mão de António Costa. »

- Livros de Areia, Pedro Marques: «Sempre me desagradou o tipo de stands que esta Feira ostenta, e as fotos reveladas no Blogtailors sobre o estado dos mesmos mostra à evidência a falência deste modelo de expositores. Mas para quê deixar nas mãos da Leya a vanguarda desta inovação? A organização da Feira (CML incluída) não poderia avançar com um concurso entre finalistas de design de equipamento para a criação de novos stands, por exemplo? A Leya usou ostensivamente esta questão para se promover como "inovadora" e poder medir a sua força com os sparring partners de ocasião.A questão central deste imbroglio é apenas esta: um grupo movido por financiamentos gigantescos (que diz publicamente que não vai a uma Feira para ganhar dinheiro; irá, supostamente, para o perder...) precisa de testar o mercado, de o esticar, e de, nesse processo, ganhar músculo negocial.Pena que, nisto tudo, a Feira do Porto vá ficando esquecida (e nem uma palavra sobre ela no Forum TSF, com a excepção de Vasco Teixeira, presidente da Porto Editora), como bem aponta o Jorge Reis-Sá no seu blogue, Rua da Castela.Resta dizer que estaremos a Feira de Lisboa no pavilhão da distribuidora 90º Noventa Graus, cujo número e localização comunicaremos a seu tempo»

Nota da Booktailors: Chegou-nos a informação que as condições em que se encontravam os pavilhões, aquando das fotos do post referido, iriam ser melhoradas.

- 1979, Luis Cristóvão: «A posição tomada pela Câmara Municipal de Lisboa, suspensão da montagem da Feira do Livro, vem pôr em causa, não só a realização da feira, mas, a própria possibilidade de existir algum evento que reúna todos os editores portugueses. Não deixa de ser irónico que uma década de "guerra" entre APEL e UEP não feriu nunca de morte o maior evento do livro realizado em Portugal como a intervenção do Município.
(...)
Já no que toca ao Interesse Público e ao subsídio que a Câmara poderá não entregar caso se verifique a ausência de livros de autores como José Saramago, Lídia Jorge ou António Lobo Antunes, parece-me que se poderá iniciar aqui uma questão interessante. A Feira do Livro de Lisboa ( e todas as restantes feiras do país) serve para facilitar o acesso à diversidade de livros publicados por todas as editoras ou, como parece indicar o argumento camarário, serve para reforçar o peso de dois ou três nomes no panorama literário português? Quer se queira, quer não, livros destes três autores (que eu respeito profundamente, atente-se) podem encontrar-se em todas as livrarias, em inúmeras papelarias, em diversos hipermercados e estações de serviço por todo o país. Mas em quantos lugares podemos encontrar a tenda dos pequenos editores? Em que outro lugar podemos ter, ali à mão de semear, o fundo de catálogo dos Livros Horizonte? Em que lugar podemos conversar com diversos editores e comerciais de todas as editoras portuguesas? Onde mais podemos perceber o alcance do livro no tecido económico e cultural do nosso país? Em mais lado nenhum.
(...)
Com o que se está a passar, corremos o risco de ter perante os nossos olhos Praças Leya em todas as livrarias e no Parque Eduardo VII e no Palácio de Cristal e na Feira de Coimbra e sabe deus onde mais. Que o senhor Presidente da Câmara de Lisboa não entenda isto por si próprio não me escandaliza - que não tenha alguém que o sussurre ao ouvido durante a sessão de câmara, é que me parece difícil de aceitar.»

- 1979, Luis Cristóvão: «parece que andamos um pouco esquecidos de que... (...)
...a Feira do Livro de Lisboa sempre foi organizada pelos editores.»

- Pó dos Livros, Jaime Bulhosa. Sob o irónico título "Através de uma mosca livreira tivemos acesso a um pequeno “diálogo” entre a CML, APEL e UEP", escreve Jaime Bulhosa:

CML: Meus senhores, vamos ter calma e ser civilizados, a fim de resolvermos o problema da Feira do Livro de Lisboa.
APEL: Problema! Não havia problema nenhum até esses senhores chegarem.
UEP: Quem nós?
LEYA: Cala-te! Não estão a falar de ti.
APEL: Por razões pré-históricas, achamos que a feira deve ser realizada por nós.
LEYA: (Sussurrante) Ainda não perceberam que estão extintos…
APEL: Vêem, vêem… eles é que começaram com as ofensas.
UEP: Quem nós?
LEYA: Cala-te! Não estão a falar de ti.
APEL: Estes senhores defendem apenas os interesses do grande capital e não querem saber das classes operárias.
LEYA: E por vocês andávamos todos de bata azul como na China de Mao-Tsé-Tung.
APEL: Vocês são uns Mouros!
LEYA: Galegos!
UEP: Quem nós?
LEYA: Cala-te! Não estou a falar de ti.»