quarta-feira, 28 de maio de 2008

Feira do Livro (João Pereira Coutinho)

João Pereira Coutinho, na sua habitual crónica "Paraíso, Purgatório e Inferno" (Única - Expresso, página 24), dedicou a secção Inferno à Feira do Livro de Lisboa. Aqui fica um excerto:

«Assisti à polémica da Feira do livro com a náusea que a coisa inspira. Antes de mais, uma confissão: a última vez que fui à Feira terá sido no século passado, ou seja, antes da Amazon me bater à porta e de atirar o meu gerente de conta para o divã. E então penso: como era possível viver sem a possibilidade cómoda de ler o que se publica em França, em Inglaterra, no Brasil ou nos EUA? Como alguém diria éramos assim absurdos em 1997.
E continuamos absurdos: as livrarias tradicionais não se recomendam. Tirando as novidades, livros com dois ou três meses, desaparecem para parte incerta. Os clássicos da língua não estão editados, ou estão mal editados - isto num país que discute acordos ortográficos.
(...)
A polémica teria sentido se alguém estivesse interessado em enviar a Feira para o século XXI. Mas a Feira toda. Ninguém está. De um lado, os pequenos editores revisitam a conversa da ética igualitária: são pobre mas honrados, de preferência no interior das suas modestas «barracas» (o termo é todo um programa) e a marchar contra o «grande capital». Do outro lado, o «grande capital» pretende simplesmente exibir-se com a vulgaridade típica do novo riquismo.
(...)
Mas esta é uma polémica sem cavalheiros. É uma luta entre o arcaísmo da APEL e a saloiíce da Leya. Uma feira, não de livros, mas de vaidades. Estão bem uns para os outros.»